Especialistas apontam que uma a cada cinco pessoas estão propensas a demonstrar seus conflitos e angústias por meio de sintomas físicos. São os pacientes que sofrem de Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS), que pelos mais variados motivos, estão lotando as unidades básicas de saúde.
Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em 15 países, como Estados Unidos, Alemanha, Japão, Brasil e Índia, aponta que 20% das pessoas atendidas sofrem de algum grau de somatização.
Outros trabalhos internacionais reconhecem que esse percentual pode variar entre 50% e 70% dos atendimentos. Resultado obtido, geralmente, após a realização de vários exames clínicos e de imagens.
Ou seja, são pacientes que manifestam seus traumas e aflições psíquicas através de algum ou até mais de um sintoma corporal. Doenças, que nem sempre encontram base médica sustentável.
Pessoas com estas características são classificadas com Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS) e sintomas que causam sofrimento físico, chegando até a gerar problemas de convívio social ou laboral.
O Transtorno de Sintomas Somáticos (TSS) é uma condição psicológica caracterizada pela presença de um ou mais sintomas físicos que causam desconforto significativo ou prejuízo funcional na vida do indivíduo. Esses sintomas podem ou não estar associados a uma condição médica diagnosticável, mas o aspecto central do transtorno é a preocupação excessiva, os pensamentos recorrentes e a ansiedade em relação aos sintomas. O TSS é classificado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) e representa uma evolução conceitual em relação ao que anteriormente era chamado de Transtorno Somatoforme.
Características Clínicas
Os indivíduos com TSS frequentemente apresentam queixas físicas persistentes, como dor, fadiga, problemas gastrointestinais, palpitações ou dificuldades respiratórias. No entanto, o que distingue o TSS é a intensidade e a persistência da preocupação com esses sintomas. A pessoa pode dedicar uma quantidade excessiva de tempo e energia à sua condição física, buscando repetidamente avaliações médicas e exames, mesmo quando os resultados não indicam uma causa orgânica significativa.
A preocupação com os sintomas é desproporcional à sua gravidade real, e o indivíduo pode interpretar sensações corporais normais ou benignas como sinais de doença grave. Essa ansiedade persistente pode levar a um ciclo vicioso de aumento do estresse e piora dos sintomas, criando um impacto significativo na qualidade de vida.
Diagnóstico
O diagnóstico do TSS é baseado em critérios clínicos estabelecidos pelo DSM-5. Para ser diagnosticado com TSS, o indivíduo deve apresentar:
Sintomas físicos persistentes: Um ou mais sintomas que causam desconforto ou prejuízo funcional.
Preocupação excessiva: Pensamentos, sentimentos ou comportamentos desproporcionais em relação aos sintomas, manifestados por:
Preocupação persistente e elevada com a gravidade dos sintomas.
Níveis elevados de ansiedade relacionados à saúde.
Dedicação excessiva de tempo e energia aos sintomas ou preocupações com a saúde.
Duração: Os sintomas e a preocupação devem estar presentes por pelo menos seis meses.
Impacto funcional: Os sintomas e a preocupação causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo em áreas importantes da vida, como trabalho, relacionamentos ou atividades diárias.
É importante diferenciar o TSS de outras condições médicas ou psicológicas, como transtornos de ansiedade, depressão ou condições médicas gerais que possam explicar os sintomas.
Causas e Fatores de Risco
A etiologia do TSS é multifatorial, envolvendo uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Alguns dos fatores de risco e contribuintes incluem:
Fatores Biológicos: Predisposição genética, alterações nos sistemas de neurotransmissores (como serotonina e noradrenalina) e sensibilidade aumentada à dor podem desempenhar um papel.
Fatores Psicológicos: Histórico de trauma, estresse crônico, ansiedade e depressão estão frequentemente associados ao TSS. Indivíduos com tendência ao catastrofismo (interpretar situações como piores do que realmente são) são mais propensos a desenvolver o transtorno.
Fatores Sociais: Influências culturais, experiências de vida adversas e falta de suporte social podem contribuir para o desenvolvimento e manutenção dos sintomas.
Tratamento
O tratamento do TSS requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais de saúde mental e médicos. O objetivo principal é reduzir a intensidade dos sintomas, melhorar a funcionalidade e diminuir a preocupação excessiva com a saúde. As principais estratégias de tratamento incluem:
Psicoterapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é a abordagem mais eficaz para o TSS. Ela ajuda o indivíduo a identificar e modificar padrões de pensamento disfuncionais relacionados aos sintomas, além de desenvolver estratégias para lidar com a ansiedade e o estresse.
Medicação: Em alguns casos, antidepressivos, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), podem ser prescritos para ajudar a reduzir a ansiedade e a depressão associadas ao transtorno.
Educação e Apoio: Fornecer informações sobre o transtorno e seu tratamento pode ajudar o paciente a entender melhor sua condição e reduzir o medo de doenças graves. O apoio de familiares e amigos também é fundamental para o processo de recuperação.
Intervenções Comportamentais: Técnicas de relaxamento, mindfulness e exercícios físicos podem ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral.
Desafios e Considerações
Um dos maiores desafios no manejo do TSS é a relutância de alguns pacientes em aceitar que seus sintomas possam ter uma base psicológica. Isso pode levar a uma busca incessante por diagnósticos médicos e tratamentos, resultando em procedimentos desnecessários e aumento do sofrimento. Portanto, é essencial que os profissionais de saúde abordem o paciente com empatia e compreensão, estabelecendo uma relação terapêutica baseada na confiança.
Além disso, o TSS pode coexistir com outras condições médicas, o que torna o diagnóstico e o tratamento ainda mais complexos. Uma abordagem integrada, que considere tanto os aspectos físicos quanto psicológicos, é crucial para o sucesso do tratamento.
Conclusão: É Possível Superar o Transtorno de Sintomas Somáticos?
O Transtorno de Sintomas Somáticos pode ser desafiador, mas com o tratamento adequado é possível melhorar significativamente a qualidade de vida. O primeiro passo é compreender que os sintomas são reais, mas que o caminho para o alívio passa pela regulação emocional e pelo cuidado com a saúde mental.
Se você ou alguém que conhece apresenta sintomas persistentes sem explicação médica, buscar ajuda psicológica pode fazer toda a diferença. O corpo e a mente estão interligados, e cuidar de um significa, também, cuidar do outro. 💙✨
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Psicóloga Lucelena Batista Grillo Prado
Psicóloga Clínica Comportamental
CRP 06/47994
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